quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Pink Floyd em versão sinfônica



   Há alguns meses, estive pesquisando álbuns de lançamento recente na iTunes Store e acabei deparando com uma das recomendações feitas pela página da loja de música da Apple, com base no meu histórico de buscas. Tratava-se de um disco da Orquestra Filarmônica de Londres gravado em 1995 só com músicas do Pink Floyd. Fiquei um pouco surpresa por não ter descoberto a obra antes, uma vez que sou fã confessa da banda, além de ter uma afeição especial por música erudita. Já conhecia a Orquestra em outros trabalhos, inclusive por meio do incrível arranjo feito para “Stairway To Heaven”, do Led Zeppelin, outro grande clássico do Rock. The  London Philharmonic Orchestra Plays the Music of Pink Floyd é composto por 11 ambiciosas faixas que almejam ser mais do que releituras. 
   “Time”, uma das mais famosas do extenso repertório floydiano, é a de início. Na verdade, foram criadas duas versões dela: uma para a  introdução e outra para o encerramento do disco, totalizando quase vinte minutos de duração. A mais fiel à original (e reconhecida com mais facilidade) é a primeira delas, oportuna interpretação para um tema tão real e apavorante que é o tempo, tratado com maestria em um dos maiores álbuns da história, o Dark Side of the Moon (1973). Já a segunda resgata os experimentos musicais realizados pelo Pink Floyd durante sua fase psicodélica, notoriamente em Ummagumma (1969).  Os sintetizadores e os demais efeitos utilizados sugerem um ambiente úmido e obscuro, como uma floresta tropical à noite, o que lembra muito certos trechos de “Several Species of Small Furry Animals Gathered Together in a Cave and Grooving with a Pict”. 
   Em seguida, há uma orquestração competente para “Brain Damage”, o que faz com que essa seja uma das melhores faixas do trabalho.O naipe dos metais é carregado, tornando o som ainda mais poderoso e mágico. Existe uma série de razões para a música clássica ser tão ouvida e executada até hoje, passados séculos do falecimento de seus mais relevantes compositores, e uma delas é que ela é capaz de elevar o espírito, engrandecê-lo,ser tão nítida e não se deixar corroer pelo implacável tempo.  



   A partir de “Another Brick in the Wall (part 2)”, as coisas começam a sair dos eixos. A versão desnecessariamente longa para um dos hinos de The Wall (1979) acaba por deixá-la maçante e sem o impacto aguardado, enquanto o curto refrão é acrescido de floreios orquestrais monótonos. “Comfortably Numb” concentra-se em flautas e oboés para os respectivos vocais do original, resultando em uma variante mais light, muito diferente do clima de profunda tristeza requerido.  
   “Breathe in the Air” e “Money” foram mais duas escolhas acertadas, sem apostas perigosas. Entretanto, “The Great Gig in the Sky” foi uma das maiores decepções do disco. O magnífico improviso vocal de Clare Torry foi substituído por um agonizante solo de violino, que, em momento algum, mostrou-se à altura das emoções transmitidas por ela  junto ao piano de Richard Wright. O piano geralmente surge associado à música de câmara, ou então, em composições que exijam um solista para o instrumento além da própria orquestra. Neste caso, uma exceção poderia ter sido aberta a fim de que o ar agourento, mais fechado e denso, permanecesse. 
   “Nobody Home” também desaponta. Tive a impressão de que essa seria uma das mais “fáceis” de transcrever para o arranjo orquestral, pois a versão original já conta com um. Infelizmente, acabou se perdendo, sendo quase irreconhecível a princípio, ao passo que a faixa seguinte,  “Us and Them”, continua arrebatadora. 
   O álbum, embora não corresponda às expectativas de muitos, será uma experiência significativa para os fãs que ainda não o conhecem. Para os que não apreciarem, sempre teremos o verdadeiro Pink Floyd para nos reconfortar, por muitos e muitos anos. 



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