quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Tons de Jazz


   Noite de chuva, ventos que mal movem as folhas das árvores, carros que fazem splash no asfalto molhado ao desacelerarem na esquina, sala deserta, na penumbra ... E um toque de Jazz. Se esse é o ambiente perfeito, por que não começar com uma das maiores lendas do gênero, o pianista e compositor Bill Evans? 

   William John Evans nasceu em agosto de 1929, em Plainfield, no estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos. Começou a tocar piano aos 6 anos de idade e, mais tarde, estudou também outros instrumentos, como violino e flauta. Em seu período de aprendizado, tocou somente obras de compositores renomados da música clássica, como Mozart, Schubert e Beethoven. A partir de seu ingresso no Ensino Médio, peças mais recentes passaram a chamar-lhe a atenção, como as do russo Igor Stravinsky.  A sólida formação musical caracterizaria, mais tarde, seu estilo inconfundível, além de certa sofisticação. 
   Em 1958, juntou-se ao famigerado sexteto do grande Miles Davis (responsável pelo Magnum Opus do Jazz, Kind of Bluede 1959). Embora tenha ficado por apenas 8 meses no grupo, a colaboração rendeu importantes frutos e uma variada experiência no universo jazzístico da época, o que lhe garantiu mais autoconfiança. O pianista maravilhou-se diante da nova forma de fazer música e de apresentá-la ao público, uma música que não precisava “ser escrita” – em referência às partituras utilizadas nos métodos eruditos. 
   O álbum de hoje é Portrait in Jazz,  gravado em 1959 pelo Bill Evans Trio, com Paul Motian à bateria, Scott LaFaro ao contrabaixo e Bill  Evans ao piano. Essa seria conhecida como uma das últimas contribuições de LaFaro, que faleceu prematuramente em um acidente de carro aos 25 anos, em 1961. O trabalho contém 9 faixas e um bônus com 4 takes alternativos. A maioria delas é de standards, só duas são composições originais de Evans – “Peri’s Scope” e “Blue in Green”, sendo essa última em parceria com Miles Davis. 
   O que se ouve é uma virtuose do modal jazz – cuja invenção é atribuída ao próprio Bill. LaFaro amplia as possibilidades para o contrabaixo, deixando os graves indispensáveis para o êxito final. A bateria de Paul Motian (reverenciado nome na música instrumental contemporânea) coincide com o fraseado elegante, não menos que impressionista, de Evans. É perceptível a influência de compositores como Claude Debussy e Maurice Ravel, e suas inovações técnicas. O piano é exato, mas permite-se a improvisos em "Come Rain or Come Shine" e "Autumn Leaves". "When I Fall in Love", eternizada pela voz de Nat King Cole, toma uma esplêndida nova forma, bem como o clássico de Cole Porter, "What is This Thing Called Love?". "Someday My Prince Will Come", do filme de animação Branca de Neve e os Sete Anões, da Disney, é presenteada com uma memorável introdução. 
 

   Outros interessantes meios de conhecer o legado de Bill Evans se dão através de seu trabalho solo, Alone e uma compilação de apresentações ao vivo, Serenity, na qual se destaca a belíssima interpretação para um tema de Michel Legrand, "What Are You Doing the Rest of Your Life?" - Será mesmo que nada é perfeito? 
   E, uma vez que o player for acionado, só nos resta fechar os olhos e sonhar. 

 
                                         
 

   

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