Noite de chuva, ventos que mal movem as folhas das árvores, carros que fazem splash no asfalto molhado ao desacelerarem na esquina, sala deserta, na penumbra ... E um toque de Jazz. Se esse é o ambiente perfeito, por que não começar com uma das maiores lendas do gênero, o pianista e compositor Bill Evans?
William John Evans nasceu em agosto de 1929, em Plainfield, no estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos. Começou a tocar piano aos 6 anos de idade e, mais tarde, estudou também outros instrumentos, como violino e flauta. Em seu período de aprendizado, tocou somente obras de compositores renomados da música clássica, como Mozart, Schubert e Beethoven. A partir de seu ingresso no Ensino Médio, peças mais recentes passaram a chamar-lhe a atenção, como as do russo Igor Stravinsky. A sólida formação musical caracterizaria, mais tarde, seu estilo inconfundível, além de certa sofisticação.
Em 1958, juntou-se ao famigerado sexteto do grande Miles Davis (responsável pelo Magnum Opus do Jazz, Kind of Blue, de 1959). Embora tenha ficado por apenas 8 meses no grupo, a colaboração rendeu importantes frutos e uma variada experiência no universo jazzístico da época, o que lhe garantiu mais autoconfiança. O pianista maravilhou-se diante da nova forma de fazer música e de apresentá-la ao público, uma música que não precisava “ser escrita” – em referência às partituras utilizadas nos métodos eruditos.
O álbum de hoje é Portrait in Jazz, gravado em 1959 pelo Bill Evans Trio, com Paul Motian à bateria, Scott LaFaro ao contrabaixo e Bill Evans ao piano. Essa seria conhecida como uma das últimas contribuições de LaFaro, que faleceu prematuramente em um acidente de carro aos 25 anos, em 1961. O trabalho contém 9 faixas e um bônus com 4 takes alternativos. A maioria delas é de standards, só duas são composições originais de Evans – “Peri’s Scope” e “Blue in Green”, sendo essa última em parceria com Miles Davis.
O que se ouve é uma virtuose do modal jazz – cuja invenção é atribuída ao próprio Bill. LaFaro amplia as possibilidades para o contrabaixo, deixando os graves indispensáveis para o êxito final. A bateria de Paul Motian (reverenciado nome na música instrumental contemporânea) coincide com o fraseado elegante, não menos que impressionista, de Evans. É perceptível a influência de compositores como Claude Debussy e Maurice Ravel, e suas inovações técnicas. O piano é exato, mas permite-se a improvisos em "Come Rain or Come Shine" e "Autumn Leaves". "When I Fall in Love", eternizada pela voz de Nat King Cole, toma uma esplêndida nova forma, bem como o clássico de Cole Porter, "What is This Thing Called Love?". "Someday My Prince Will Come", do filme de animação Branca de Neve e os Sete Anões, da Disney, é presenteada com uma memorável introdução.
Outros interessantes meios de conhecer o legado de Bill Evans se dão através de seu trabalho solo, Alone e uma compilação de apresentações ao vivo, Serenity, na qual se destaca a belíssima interpretação para um tema de Michel Legrand, "What Are You Doing the Rest of Your Life?" - Será mesmo que nada é perfeito?
E, uma vez que o player for acionado, só nos resta fechar os olhos e sonhar.
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