terça-feira, 15 de janeiro de 2013

De outro planeta


   Space is Only Noise  (2011) é o disco de estreia do músico e compositor norte-americano Nicolas Jaar. Nascido em Nova York no ano de 1990, Jaar mudou-se com a família para a terra natal de seu pai, o Chile, aos dois anos de idade, e só retornou aos Estados Unidos seis anos mais tarde. Na Brown University, em Rhode Island, estudou literatura comparada e em 2009 fundou seu próprio selo musical, a Clown & Sunset.
   Classificando o próprio som como “blue-wave” (expresso por 100 BPM, diferentemente do Techno, o qual conta com 120 BPM) o som de Nicolas Jaar abarca influências que vão desde Ricardo Villalobos àquele que é considerado o pai da música ambiente, o compositor do século XIX Erik Satie, até o jazzista etíope Mulatu Astatke. Também já confessou em entrevista o amor pelas obras do mestre brasileiro Cartola, e confirmou sua presença no festival Sónar, esse ano, em São Paulo. 
   Apesar da pouca idade, o músico é responsável por um dos trabalhos mais engenhosos dos últimos anos. O álbum é uma invasão de vozes entrecortadas, declarações aleatórias multilíngues, ruídos que pipocam nos ouvidos, um piano apurado, solos de saxofone, ecos, enfim: uma autêntica miscelânea. Tudo com muita classe e requinte. 
   O marulhar das águas prestigia a introdução de “Etrê”, a primeira faixa, que, logo em seguida, emenda em “Colomb”. É por aí que se reconhece Jaar como um dos principais nomes da música minimalista atual, inaugurando uma sonoridade rica em sentidos. Note que aqui se aplica o conceito de "música ambiente" mencionado, sugerindo que a mesma é capaz de ocupar todo um recinto.  Em “Too Many Kids Finding Rain In The Dust”, é possível identificar o choque entre elementos clássicos e as batidas industriais e o prenúncio mais próximo até então de uma melodia, trazendo ganhos para ambos os lados. “Keep me There” mantém os graves nas vocalizações e os experimentalismos, como as risadas distorcidas e o sax intercalado na segunda metade da faixa. “I Got a Woman” herda a elegância do Jazz, desta vez eletrônico e aromatizado artificialmente, além de contar com samples do refrão da música homônima de Ray Charles e uma gravação da  leitura do poema “Pour Compte”, de Tristan Tzara, um dos precursores do Dadaísmo. 
   A faixa que originou o título do álbum, a lunar “Space is Only Noise if You Can See” apresenta um vocal calculadamente remixado e efeitos atordoantes que a tornam a investida mais Techno. A calma “Almost Fell” acorda as águas e prossegue nos chiados iniciais de fundo, tomada pelas reverberações de um agudo vocal. A ótima “Variations” é sucedida pelo bis de “Etrê”, fechamento de Space is Only Noise.  
   Esse disco faz parte da seleta horda digna da alcunha de “obra de arte”. Recomenda-se sua audição integral, sem interrupções, afinal, é uma experiência completa e única. Imagine-o em uma exposição em um museu de Arte moderna, emoldurado por matizes de preto, cinza e branco, que, mais do que quaisquer outras cores, cabem perfeitamente no tom deste primoroso trabalho. 


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