segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Deep thoughts


  Shallow Bed, lançado em 2012, é o debut  da banda inglesa de folk-rock Dry the River. Sua formação inclui cinco integrantes: Peter Liddle (vocal principal, guitarra), Matthew Taylor (vocais, guitarra, teclado), Scott Miller (baixo, percussão, vocais), Jon Warren (bateria e percussão) e Will Harvey (teclado, violino, viola e bandolim). Comparados aos seus conterrâneos do Mumford and Sons pelo jornal The Guardian, os rapazes já se apresentaram em grandes festivais pela Grã-Bretanha e até na edição norte-americana do Lollapalooza, no ano passado. 
   O disco proporciona um aprimoramento do folk-rock tradicional, com arranjos bem elaborados e desenvolvidos de modo pleno. Os vocais harmônicos remetem a uma aproximação aos corais característicos da música sacra, recurso que tem o objetivo de enfatizar o assunto tratado ao longo das 12 faixas que o compõem.  Há, em Shallow Bed, um louvável empenho em relação à criação das letras, o que o torna uma tentativa ainda insegura de um álbum-conceito, envolvendo certo grau de coesão.  
   À medida que o álbum é ouvido, percebem-se diversas referências à religião. Primeiramente, a capa traz a pintura de um peixe, um dos símbolos-mor do cristianismo. “Shield Your Eyes”, a terceira faixa, menciona o leão de Frígia – região visitada por Paulo de Tarso e Silas no livro Atos dos Apóstolos, da Bíblia, e que hoje corresponde à Turquia – e suas previsões quanto ao fim iminente de um relacionamento. “History Book” narra o dilema de um jovem que pretende seguir à risca os ensinamentos da doutrina cristã, mas que se entrega aos desejos sexuais. O fardo do pecado é, portanto, “tão pesado quanto um livro de História”.  
   “The Chambers and The Valves” continua a discorrer sobre esse amor juvenil. “Demons” reafirma a importância da luta contra o mal e emenda perfeitamente em “Bible Belt”, a partir da qual é possível traçar o panorama familiar que lhe serve de cenário – pais alcoólatras e filhos sem rumo, subjugados pela religião. Ao menos um eu-lírico pode ser identificado, assim como sua fuga de tudo aquilo que considera “raso” (como o título do disco anuncia).  A  melancólica “Weights and Measures” é sobre o amor tardiamente correspondido e as decepções que o seguem. O ciclo é encerrado com “Family Tree”, onde o filho que se desvirtuou é aconselhado a se juntar novamente à família, para que só assim a paz no lar se concretize. 
   Apoiando-se em uma estreia tão primorosa, o Dry the River entra em estúdio este mês para a gravação de seu próximo trabalho, até então sem previsão de lançamento. É só aguardar e apreciar. 





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